Intendente Magalhães
Feitiço do Rio promete desfile-manifestação no Carnaval 2020
A Feitiço do Rio pretende provocar a reflexão dos brasileiros com o enredo do Carnaval 2020. A agremiação apresentará E agora? Quem poderá nos defender?, que será desenvolvido pela comissão formada por Daniel Sobral Barros, Vinícius Carr e Isaac Neves. A escola destacou que será um “desfile-manifestação, guiado por mulheres negras, heróinas, empoderadas na sua gente e que, ao lado do seu povo, lutaram por dias melhores”.
Sinopse
E agora? Quem poderá nos defender?
(Antonio Gonçalves e Wagner Rodrigues)
Acotirene, Zacimba Gaba, Brandina, Anastácia… O que têm em comum? A luta por mudanças, o desejo de igualdade, o querer respeito, liberdade…! Vidas que, unidas, contam a história de um povo, do nosso povo, da nossa gente!
Simoa, Laudelina, Adelina, Carolina, Zeferina, Maria Escolástica, Maria Firmina… líderes, humanas, negras… mulheres que nasceram com o dom de lutar pelo lugar onde vivem e pelas pessoas com as quais convivem… sexo frágil? Não… Jamais! Fortaleza! Parte do nosso povo, representantes dos anseios da nossa gente… Heroínas!
Não usavam capas, não tinham superpoderes, não sabiam voar… Não estão nos quadrinhos, desenhos animados, jogos virtuais… muitas vezes, não estão nem nas tendenciosas páginas dos livros da “história” [e que história? Aquela que querem que aprendamos. Será, ela, a verdadeira história? Duvida-se], mas existiram, fizeram a sua parte, deram o seu suor, o seu sangue, a sua vida, em prol de dias melhores.
Sim, foram – e são – reais! E como o Carnaval é feito de mágica, melhor, de “Feitiço”, retornam à vida, juntas, em nosso tempo, para, a partir dos tradicionais discursos em caixotes (aqueles das praças públicas), guiarem-nos numa nova revolução.
Não é mera rebeldia, é insatisfação, luta, orgulho… protesto… manifestação contra o que “as forças ocultas” – que se dizem “cultas” – estão fazendo com o nosso País, com o nosso Estado, com a nossa Cidade, com o Carnaval… e nos convencer de que não podemos desistir, pois somos capazes de nos livrar de todo e qualquer mal!
Um novo Palmares de Aqualtune e de Dandara, um grito por liberdade! A união do Mola de Maria Aranha com o Piolho de Tereza de Benguela, por igualdade e pela união de brancos excluídos, índios, negros e mestiços na luta pelo cumprimento dos nossos direitos… Um novo Quilombo, força, resistência! Um grito por basta! Um “já chega” a ressoar como um tambor de mina, de Nã Agotimé, bradando pelo fim da intolerância! Um clamor por um novo recomeço!
E se necessário, vamos à guerra [nos manifestar] por tempos melhores, como fizeram Maria Felipa e Luíza Mahin! Mas vamos instruídos, munidos de conhecimento, de sabedoria… empoderados! Vamos com o livro de Rosa Egipcíaca, sem medo dos olhos da Inquisição; vamos com a carta de Esperança Garcia, buscar a verdadeira justiça; vamos com a denúncia de Eva do Bonsucesso, exigir o fim da opressão!
Vamos com os ensinamentos de Maria Odília, por saúde! Com a poesia de Auta de Souza, por educação! Com as manchetes do jornal de Antonieta de Barros, por liberdade de imprensa! Vamos com as letras dos sambas tocados no quintal de Ciata, por cultura! Vamos! Não dá mais para nos calarmos! Elas não se calaram! Não querem que nos calemos!
Já nos afastaram dos direitos básicos à educação, saúde, moradia… agora, querem nos afastar da cultura, calar nossos pandeiros, silenciar o nosso batuque… Mas não conseguirão amordaçar a nossa arte! Pintaremos como Tia Lúcia, do Morro da Conceição; jongaremos como Tia Maria no alto do Morro da Serrinha…
Não aprisionarão os nossos sonhos! Não deixaremos acabar com o nosso Carnaval! Ledo engano, se pensam que conseguirão! O samba até perde batalhas, estremece, mas, no final, haverá de vencer a guerra! Aliás, somos o povo do Samba de Clementina, Jovelina e Dona Ivone Lara! Somos fortes! Somos do samba! Somos aqueles que descem, como Neuma, o Morro de Mangueira; que cresceram vendo Dodô erguer o pavilhão azul e branco de Madureira; e que, há três anos, numa tarde ensolarada de Maio, num Domingo (15), vimos Lúcia batizar a bandeira feiticeira!
Por dias melhores, gritaremos em praça pública, na Intendente Magalhães, na Rio Branco, na Central… seremos Marielles, Saraís, Lélias…! Seremos a voz do povo, os olhos do povo, a mente do povo. Seremos o que sempre fomos, o povo! E percebendo essa força, o nosso poder, enxergaremos o que todas essas mulheres quiseram nos mostrar: que não precisamos de super-heróis, pois, nós, unidos, podemos nos defender! Nós somos a nossa defesa… Nós somos o povo!
(“Todo o poder emana do povo” – Constituição Federal de 05.10.1988)
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