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Confira a sinopse do enredo da Mocidade Independente

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A Mocidade Independente de Padre Miguel divulgou na terça-feira, 2 de agosto, a sinopse do enredo Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão, que apresentará na Sapucaí no Carnaval 2023. A data para a apresentação do texto foi escolhida pela verde e branco por ser o Dia da Cultura Nordestina. O tema trata do legado dos artistas do Alto do Moura, discípulos de Mestre Vitalino, pertencentes ao Maior Centro de Artes Figurativas das Américas, título concedido pela UNESCO.

Sinopse

Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão

Enredo Mocidade Independente

Estas são as origens da Terra de meu Céu:

Deus, nosso Pai, foi o princípio. Firmou sua Criatura ao pó de argila. Soprou sobre Ela o fôlego da vida – a imagem e semelhança sublime do Criador. Plantou um jardim no Agreste e pôs ali os homens que tinha moldado. Fez brotar da terra vergéis repletos de mandacarus e xiquexiques – a força de Sua criação. Riscou no Barreto as primeiras margens do Rio Ipojuca, a fim de regar a vida das aves e dos animais do Campo. Pôs os astros no celeste firmamento, tomou o homem e o pôs para o lavrar e o guardar. Mas não foram as mãos de Deus; foram as de meu pai, Mestre de todos os discípulos deste vilarejo: Vitalino Pereira dos Santos do Alto do Moura – O Deus do Barro (Ref. Música, Petrúcio Amorim, Caruaru-PE).

Jericos galopam pela manhã repletos de saquinhos de massapés, a matéria-prima do nosso Senhor. Galhas de mamoeiros enfeitam as calçadas do povoado. O tauá descansa ao eterno, refém da inspiração divina. Fornalhas incessantes, tal qual o cardeá da luta matuta. Resiste o estuque, paredes guardam o âmbito majestoso do barro. Aporta a saudade e, nas capelinhas, o testemunho de Padim Ciço, à memória de Deus-Pai. Valei-me, pelo sempre! Peço-lhe que interceda por mais um dia de criação (Cenas revogadas pelo Livro Arte do barro e olhar da arte, por Pierre Verger – 1947).

Tabuinhas se preenchem da vida lá de fora. Sacadas narram a rota da roça. Imagine moldar a imagem da Criatura sem seu fiel escudeiro? Os boizinhos de tantas pelejas pelo sacolejar das loiçarias e alambiques, acompanhantes da luta destes meus irmãos. Irmãos que resistem à labuta de terras distantes e exalam o cheiro verde vindo dos canaviais – afã promovido pela branquinha, a companheira deste ofício. Feiras são salpicadas pelo colorido das frutas agrestinas. Animais fazem algazarra nas cestarias das quitandeiras. Milharais congregam pela quebra. Mãos afagam o algodão. Casas farinham um aferrado trabalho matriarcal. Prados de girassóis se voltam às cenas deste meu Alto – visões que inspiram gredas e amenizam o suor da lida.
Histórias modeladas no escapismo e cerimoniadas pelo Bispo Mané-Pãozeiro. Caçadores viram peões na busca por gatos-maracajás; lançam tarrafas aos doces riachos. Águas de reis e rainhas do Cangaço – seres híbridos mimetizados pela lenda das sereias. Cavalgam caracóis enamorados pelos rochedos que os margeiam. Torres observam o universo mítico de asnos armoriais. Monstros gráficos não espantam a sorte dos arvoredos. Quimeras lendárias reinventam a arte; peças configuram a vida como um grande jogo de xadrez no meio do meu Sertão.

Portinhas dos casarios são pertencidas à imagem dos três santos juninos. Santidades cúmplices do ciclo da vida apadrinham as fases vividas pelo sertanejo. Nascimentos guiados pela estrela-guia e amparados por presépios encantados. Procissões erguem santinhas vestidas de chitas que abençoam, com juras de amor, o atravessar da cidade. Preces de novenas espantam a agrura de toda tentação do deserto. Altares protegidos por faces angelicais das divindades. Mãos recriam imagens protetoras do barro-sacro de cada dia.

Brincantes figuram o Auto deste meu Mundaréu: cânticos entoados pelo repente dos Bacamarteiros; destino mambembe riscado pelas espadas dos Capitães do Reisado; flechas de caboclos erguem-se aos Jaraguás do Cavalo-Marinho; realeza segue ao passo dos Vassalos do Maracatu-Rural; Bandinhas de Pífanos bumbam fitas e flores para um Boi-Teimoso; Papangus reverenciam nossos astros; Mazurcas giram saias rodadas, como os sonhos que embalam um carrossel em verde e branco.

E em tudo que sonhar, olhe para o Alto!¹

Estas são as origens das Estrelas de meu Chão.

Severino Pereira dos Santos Vitalino, discípulo do Deus do Barro.

P.S.: Este é o inventário do país que queremos ser – surgido de uma prosa particular em um dia com o filho do Deus Vitalino. E de outros proseares com os discípulos dos Mestres Zé Caboclo, Manuel Eudócio, Manoel Galdino e Luiz Antônio. Legado figurado das grandes estrelas do Alto do Moura e que servem de sublime inspiração aos repentistas de Padre Miguel!

Autoria, Enredo, Pesquisa e Texto: Marcus Ferreira, Carnavalesco.

Agosto de 2022.

Agradecimentos Especiais: Ângela Mascelani e Lucas Van de Beuque

Curadoria Museu Casa do Pontal. Emanuella Vitalino e família. Serginho Brayner – a enciclopédia Caruaruense. Mestra Therezinha Gonzaga – Cidadã Patrimônio Vivo de Caruaru.

Revisão Textual: Henrique Pessoa.

Nota: ¹Frase da Mestra das Estrelas, Therezinha Gonzaga.

Vocabulário Matuto do Agreste:

Agrestina – Que vem do Agreste Pernambucano;
Barreto – Lugar de barro abundante;
Bacamarteiros – Grupo folclórico de repentistas;
Boi-Teimoso – Mesmo que boi-bumbá; Tira-Teima;
Cardeá – Queima nas fornalhas;
Galhas – Ramalhetes dos arvoredos;
Jericos – Mulinhas, jegues, cavalinhos de vida simples;
Jaraguás – Brincantes dos folguedos do Cavalo-Marinho;
Loiçarias – Utilitários domésticos de barro;
Mané-Pãozeiro – Figura popular do Alto do Moura – principal personagem da
obra de Mestre Galdino;
Marmeleiro – Ou Marmeleiro-do-Mato, árvore do Agreste utilizada para a
queima nas fornalhas;
Prados – Ou Campos;
Tauá – Tom alaranjado da cerâmica;
Tabuinhas – Prateleira de madeira que apoia a arte figurativa para apreciação;
Vergéis – Mesmo que pomares.

Desfile

No Carnaval 2023, a Mocidade Independente será a terceira agremiação a desfilar no domingo, na Sapucaí, pelo Grupo Especial.

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