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Leia a sinopse da São Clemente para o próximo Carnaval

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A São Clemente divulgou nesta quarta-feira, 2 de dezembro, a sinopse do enredo para o próximo Carnaval. A pesquisa e o texto são de Marcos Roza. O carnavalesco da escola é Tiago Martins. A amarelo e preto de Botafogo apresentará Ubuntu na Sapucaí.

Sinopse do enredo

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Somos um, somos todos a cuidar uns dos outros e do nosso lugar. Ubuntu, termo africano da língua Zulu, oriundo do tronco linguístico bantu, se conjuga na primeira pessoa do plural: NÓS. Ressignifica a construção de um futuro dentro do presente. A coletividade nos alcança. “Ubu” evoca a ideia do ser e “ntu” indica toda manifestação do ser-sendo, em constante movimento. Nossa Escola de Samba se transforma em Escola de Vida, voluntária de uma grande missão social, na qual o princípio é a garantia do bem-estar coletivo dos seres humanos ao redor do mundo. São Clemente! Nós, eu e tu, somos uma só voz. O encontro étnico enriquece os gestos afetivos e contínuos à realeza africana. Conecta-nos à vivência e aos ensinamentos da Mãe África; traduz o sentimento da filosofia ubuntu, identidade de uma gente de pele preta que compartilha, que é solidária à dignidade humana e à troca de saberes. O ser-sendo clementiano flerta com o mundo negro africano, cria laços de apoio mútuo, veste a esperança e personifica, em desfile, a xenofilia. Enreda-se à reativação da comunidade afreekana, à plena realização do ser: o direito a ter direitos, Humanidade para Todos!

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Ardente em sensações vivas, a rara missão, pulsa. Afaga a dor, emana amor e gratidão. Anuncia o alcance adquirido pela força das ações humanitárias. Materializa a generosidade e o desprendimento – valorizando o trabalho e a crença das mulheres Yanomamis. Incorpora o espírito de ubuntu ao colo materno de Amma, a santa dos abraços. Pede benção, saúda as Ialorixás, matriarcas do terreiro que preservam a humanidade do seu povo nas religiões afro-brasileiras. Corre, acolhe, ampara, socorre, renova a bondade das missionárias religiosas. Segue! Recria a fé e o pranto, a romaria de um velho padre, quase santo. Cultua um santuário à vida, um rito de humana compaixão que firma o passo e estende a mão.

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Solta a voz da memória e denuncia: tipificado ou estrutural, racismo é crime. Como trança que nos aproxima, segue a ancestralidade nos rincões escravocratas e ecoa pelos ares a resistência e a luta do Quilombo dos Palmares. Humanidade? Essa fora negada com os fragmentos de uma lei. Uma áurea exclusão de uma política conservadora de libertação. O punho é cerrado contra o mito da democracia racial: o negro desafia, atua, experimenta, ergue-se da palavra, despadroniza a tormenta! Luta Abdias, luta Mandela, lutam Luther King e Malcolm X, todos prestam à terra – de que são filhos – discursos bravios à condição de sujeitos de conhecimento contra a discriminação racial. Ao som da reciprocidade, Teresa lidera um quilombo, Garcia envia uma carta, o diário de uma favelada inspira…pois a fala da mulher preta nasce desse chão. Tudo em movimento: negro, unificado e antirracista; ubuntu da nossa existência junta e reflete da alma os protestos de que vidas negras importam!

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A vida eleva o conceito da filosofia ubuntu para além dos territórios africanos. Sem perder o foco, a missão segue, enxerga e envolve-se. Salvando vidas sem descanso na lida do dia a dia, sejam pessoas afetadas por acidentes naturais, conflitos armados ou pandemias, o trabalho de Médicos sem Fronteiras, de organizações de saúde e voluntários, aponta para onde caminha humanidade. Atos, atitudes, sensibilidade! Ação da Cidadania sugere “fome zero” para um Brasil em estado de calamidade. Age na contramão da desigualdade social e coroa, a luz da caridade, a princesa Diana como a “rainha do povo”. A ensinagem da vida afirma-se da arte das bonecas abayomis, feitas sem costura, que trazem a herança cultural africana do “abay” – encontro – e “omi”, precioso, como representação, no enredo do meu samba, das ações sociais realizadas pelas Ong´s – organizações não governamentais. Nesse trajeto do pensamento africano, a história educa e a missão clementiana preserva a ética humana, incluindo as ações desenvolvidas por meio da educação integral do Instituto Ayrton Senna, a valorização do grupo e o respeito às diversidades. E recriando a esfera de valores da Humanidade para Todos, atualiza os dados! Integrando a essa mesma humanidade, promove o sentido ecológico de ser e estar no mundo, um ato político de respeito ao meio ambiente. Permitindo-nos ouvir a voz da Natureza, o canto dos girassóis, enxergar o suor das folhas a cada raiar do sol e denunciar os diversos crimes ambientais: as queimadas das florestas, a caça predatória de animais em extinção, a poluição dos ares e dos mares. Tudo sufoca e destrói a Grande Mãe, a única que pode garantir a nossa própria sobrevivência.

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Como consequência natural da formação da cultura popular, a missão social da São Clemente compartilha do mesmo sentimento de comunidade levando-nos à compreensão das linguagens artísticas como vínculo de humanização deflagrado da preservação da memória, das tradições e dos valores de pertencimento: “eu sou na medida em que o meu coletivo é”. E se conecta com o que de mais profundo e humano cada um de nós guarda em si. Diretamente ligada à cosmovisão dos mitos populares da cultura bantu, tudo se alinha à ética africana e ecoa espontaneamente dos tambores de crioula, da tradição dos jongueiros e dos laços identitários do bloco Ilê Ayê. Encontra com o samba e com o conceito de união, herança que se aprende quando criança. A alegria é coroada pela relação dos seus ideais: desfila os ensinamentos das escolas mirins e preserva a cultura dos nossos carnavais.

É a saga dos encontros, que (re)conecta pessoas e entidades a um grande abraço social, no qual a Escola de Vida sugere uma reflexão contra todo tipo de preconceito e discriminação. A São Clemente é o Carnaval da Inclusão ser-sendo resistência, porque Somos Todos Nós UBUNTU.

Glossário:

Afreekana – é o primeiro sistema de organização social no mundo e o responsável por manter viva a população afrodescendente.

Ialorixá – nos terreiros de candomblés, é a mãe de santo, matriarca responsável pelo culto aos orixás.

Yanomamis – refere-se à Associação das Mulheres Yanomami Kumirãyõma (AMYK) criada em 2015 pelas mulheres Yanomami da região de Maturacá para valorizar os saberes das mulheres e estimular os jovens sobre o conhecimento tradicional, especialmente sobre o artesanato.

Xenofilia – sentimento de simpatia pelo estrangeiro, congraçamento com outras culturas.

Referências:

GLOBAL Humanitarian Assistance. Defining humanitarian assistance. 2017.

DOSSIÊ IPHAN. Jongo no Sudeste. Brasília, DF: Iphan, 2007.

NOGUERA, Renato. Ubuntu como modo de existir: Elementos gerais para uma ética afroperspectivista. Revista da ABPN.V.3 p. 147-150. 2011.

PONTES, Katiúscia Ribeiro. Kemet, escolas e arcádeas: a importância da filosofia africana no combate ao racismo epistêmico e a lei 10639/03; 2017.

RAMOSE, Mogobe B. A ética do ubuntu. 2002.

_________, Mogobe. Globalização e ubuntu. In: SANTOS, Boaventura; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo, 2010.p.175-220.

Carnavalesco:

Tiago Martins

Pesquisa e texto:

Marcos Roza

Desenvolvimento:

Tiago Martins, Marcos Roza e Érica Portilho.

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