São Paulo
Liga SP lança manifesto em defesa do Carnaval
A Liga SP lançou nesta sexta-feira, 26 de novembro, um manifesto defendendo a realização do Carnaval 2022. A entidade rebateu as afirmações de que a festa colocaria a população brasileira em risco, com a possibilidade de piora do contágio por coronavírus.
Diga SIM ao Carnaval da Vida em 2022
Em 2021, apenas o silencioso vazio da pista e das arquibancadas desfilou no sambódromo do Anhembi. Nas ruas de São Paulo, só a movimentação cotidiana se fez presente. Do período de entendimento ao período mais crítico da pandemia, o Carnaval paulistano se guardou, pelo bem coletivo, e, como outros setores, sofreu os impactos socioeconômicos da covid-19. Neste momento de retomada da economia e, consequentemente, das atividades carnavalescas, um tímido movimento quer negar a volta das práticas carnavalescas, justificando com inúmeros argumentos falhos e apelando ao “respeito” pela tragédia que passou por nós de forma avassaladora. Este é o Carnaval da Vida e a discussão sobre realizá-lo ou não precisa deixar o campo das nossas preferências pessoais e partir para a racionalidade.
Para opinar sobre o cancelamento do Carnaval ou dizer não ao Carnaval 2022, é imprescindível, primeiramente, saber do que se fala e colocar os dois pés no chão. O Carnaval é uma manifestação cultural multifacetada e tão antiga quanto este mundo. Há, todos os anos, Carnaval. As festividades podem não acontecer publicamente, mas ele impera. Os Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo são um espetáculo a céu aberto. Em outras palavras, o evento é como um show com plateia sentada, como um jogo de futebol com torcida, ou como a Fórmula 1. Se estivesse marcado para novembro de 2021, o Carnaval do sambódromo teria totais condições sanitárias de acontecer. Não foi o caso em fevereiro ou em julho deste ano, duas possíveis datas para a edição do Carnaval SP 2021. Entenda de uma vez por todas por que a realização dos Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo pode ser viável, não interfere no respeito que você tem pelas pessoas que perdeu e, ao mesmo tempo, marca a celebração do sucesso obtido com árduo esforço de São Paulo no enfrentamento da pandemia e a retomada da vida.
O evento
Os Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo estão marcados para os dias 25, 26, 27 e 28 de fevereiro, e 5 de março. O evento, há 30 anos, acontece no sambódromo do Anhembi, com limitação de público, visto que há uma capacidade máxima. É um espetáculo a céu aberto, com quatro noites de desfiles e, ao final, uma quinta noite para comemorar as escolas campeãs.
Desde o dia 1º de novembro, São Paulo não adota mais restrição de público e horário como protocolo anticovid-19. Estão liberados, desde já, shows com público em pé, pistas de dança, torcida nos estádios de futebol e quaisquer eventos com controle de público.
A retomada das atividades carnavalescas, portanto, é natural
Entenda os Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo como um espetáculo musical ao ar livre. Se o Carnaval das agremiações acontecesse hoje, haveria distanciamento social, higienização de ambientes e mãos rigorosa, uso de máscara cobrindo nariz e boca e apresentação do Passaporte da Vacina, que são os protocolos vigentes no estado para frear a disseminação de coronavírus.
Dentro das quadras, as escolas de samba só permitem a entrada de visitantes que apresentarem o comprovante de vacina contra a covid-19. São observados, também, o uso de máscara e a higiene adequada, para evitar que retrocedamos no enfrentamento ao vírus.
O Carnaval do sambódromo não é um mundo à parte da pandemia, mas sim um evento que está inserido neste contexto e, como todos os outros eventos que já estão sendo realizados, se adequa ao momento.
Isso não significa ignorar as perdas
No âmbito das escolas de samba, perdemos componentes, amigos, trabalhadores, artistas talentosos que tiveram suas trajetórias interrompidas pelo vírus. Como podíamos, lançamos correntes de orações, celebramos as recuperações e lamentamos mais perdas do que gostaríamos. Não são números, perdemos peças importantes da nossa cultura.
O respeito aos nossos, às centenas de milhares de vítimas da covid-19, portanto, não deixa de existir. É porque respeitamos a vida que continuamos a nos movimentar, e porque respeitamos a dor dos que ficam que atuamos, em muitas frentes, para dar suporte, para cuidar das comunidades, com muito mais intensidade e responsabilidade do que antes.
E o que foi feito até aqui?
Durante toda a pandemia, as escolas de samba de São Paulo substituíram os eventos pela intensificação dos projetos sociais, com ações para distribuição de alimentos, roupas, máscaras, cobertores e itens de higiene para pessoas em situação de rua, apoio psicológico durante o luto e, principalmente, doação de cestas básicas a pessoas que foram afetadas economicamente pela pandemia.
Os departamentos sociais das agremiações paulistanas atenderam as comunidades no entorno das quadras com doação de alimentos, atendimentos de saúde física e psicológica, aulas de dança, lutas, música, fotografia, cursos profissionalizantes relacionados às práticas carnavalescas e outras profissões, além de ações sazonais como o Natal, Dia das Crianças e Páscoa. Neste período crítico, a necessidade fez com que novas ações sociais surgissem, como cursinho pré-vestibular popular, reforço escolar e até mesmo reforma de casas.
Em maio de 2020, a comunidade do samba se uniu para arrecadar alimentos e doar para pessoas em situação de vulnerabilidade. Ações semelhantes aconteceram em 2021, com a carreata solidária no sambódromo do Anhembi e a campanha G.R.E.S. Unidos da CUFA, em parceria com a Central Única das Favelas e com a Frente Nacional Antirracista.
Em fevereiro deste ano, substituímos, com orgulho, nossos desfiles por uma manifestação artística, em favor do movimento #TODOSPELASVACINAS, lançado por entidades científicas brasileiras quando o negacionismo ameaçava a principal medida de combate à pandemia.
Este será o Carnaval da vida
A cidade de São Paulo tem 100% da sua população adulta vacinada com 2 doses. A eficácia da vacinação é comprovada hoje com a diminuição dos números de casos, internações e óbitos. Há outros fatores que contam pontos a favor do Brasil no combate à covid-19, em comparação com outros países, a começar pela rápida adesão à 3ª dose no esquema vacinal, como dose de reforço, evitando que a imunidade contra o coronavírus volte a baixar. Por aqui, o uso de máscara também continua sendo obrigatório na maioria dos estados, outra medida que evita a circulação do vírus visto que, vacinar-se não significa não contrair o coronavírus mas sim não desenvolver a covid-19 ou ter sintomas mais brandos. Há mais de 30 anos, o Plano Nacional de Imunização incentiva a adesão das vacinas contra várias outras doenças, por meio do SUS, o que explica o sucesso da cobertura.
Não por causa da ausência do Carnaval em 2021, mas por todas as privações que a pandemia nos trouxe, valorizamos ainda mais a vida e os momentos de leveza. Muitas vezes, durante a quarentena, a arte e o entretenimento nos salvaram do enlouquecimento que a mudança abrupta de rotina e o medo de sair de casa nos causou. São Paulo empregou todos os esforços no enfrentamento da pandemia. Agora, o caminho para a retomada passa pela cultura. Diga SIM ao Carnaval. Diga NÃO ao negacionismo, à irresponsabilidade, ao elitismo e ao preconceito contra a cultura popular.
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