Intendente Magalhães
Renascer de Jacarepaguá divulga sinopse e dá título de baluarte a Nei Lopes
A Renascer de Jacarepaguá apresentou no sábado, 15 de outubro, a sinopse do enredo para o Carnaval 2023. Com a presença do homenageado, a agremiação revelou o texto que dá base a O Afro-Brasil Reluzente de Nei Lopes. O tema será desenvolvido pelo carnavalesco Plínio Santtos.
O evento também serviu para outra reverência a Nei Lopes. Ele recebeu o título de Baluarte da Renascer de Jacarepaguá. Emocionado, o compositor agradeceu. “Eu já recebi muitas homenagens ao longo desses oitenta anos. Esse chamado da Renascer tem um significado muito especial. Tenho pensado muito nessa homenagem e ela é muito mais do que eu poderia imaginar, do que já recebi até hoje. Com tanta amizade, tanto carinho, tanto envolvimento, agradeço a Renascer de Jacarepaguá, os componentes, a comunidade e ao carnavalesco que intuiu a possibilidade de me colocar na avenida e a diretoria que possibilitou esse enredo. Já fui muita coisa na vida, já fui estudante, já fui militante, já fui filho de santo, já fui babalaô e hoje sou enredo. É isso aí, é Irajá, teu filho agora renasce em Jacarepaguá.”
O presidente da Renascer de Jacarepaguá, André Augusto, exaltou o compositor. “É com imensa satisfação que abrimos a quadra da nossa escola para homenagear em vida nosso mestre Nei Lopes. Ele hoje, não será só o enredo para o Carnaval 2023, mas, a partir de agora ele é baluarte da nossa Renascer de Jacarepaguá. Com este título que foi entregue em suas mãos pelos nossos principais baluartes, Nei Lopes passa a fazer parte da nossa história de glórias.”
Enredo
O Afro-Brasil Reluzente de Nei Lopes
Presidente: André Augusto (Dedé)
Carnavalesco: Plínio Santtos
Enredista/Texto: Plínio Santtos e Diego Araújo
Pesquisa/Colaboração: Diego Araújo, Marcos Felipe Reis e Nei Lopes
Observação: Registra-se neste material os agradecimentos da equipe de criação textual ao homenageado Nei Lopes. A atenção dada através de registro de entrevista exclusiva ao G.R.E.S. Renascer de Jacarepaguá foi de grande importância para a composição deste enredo. A sua bênção, dos orixás e ancestrais. Gratidão, mestre.
Justificativa
Há de reluzir uma intensa luz sobre o povo do samba, e assim, outra vez transformar este palco popular, que nesta noite, se agiganta para uma grande celebração. E há de iluminar! O Grêmio Recreativo Escola de Samba Renascer de Jacarepaguá, que, orgulhosamente, apresenta seu enredo para o Carnaval 2023.
Existe um Brasil que precisa reafirmar os valores do povo de pele preta, e justamente, por toda a ancestralidade que nos fundamenta como escola de samba, é nossa missão levantar a poeira do chão num brado de luta e resistência. Sem mordaças, sem amarras, a voz livre para ecoar. Sem correntes, sem grilhões, o corpo livre para se expressar. Para ouvir o homem negro. Para o retinto-reconhecer, encrespar e empretecer: a fala, o pensamento e as ações. Exaltar as tradições, erguer o punho na luta antirracista. Irmanar, dar as mãos, ser centelha da igualdade racial.
Então, esse Brasil se erguerá! Afro-diaspórico, afro-liberto, afro- brasileiro, afro-reluzente. Nas páginas dos livros e nos versos de tantas canções. Vai se erguer pelas mãos de um homem afrodescendente. Advogado, escritor, poeta, músico e sambista. Vai se erguer com o reconhecimento que lhe é direito por seus 80 anos de vida. E hoje, o pavilhão vermelho e branco se curva em reverência ao seu nome e sua obra.
Essa luz divina vem de Oxalá e vai consagrar:
“O Afro-Brasil Reluzente de Nei Lopes”
É Tempo de glória
Renascer de Jacarepaguá!
Sinopse
“Onde o Menino Desenhava a Liberdade”
Vai Renascer um brilho de esperança…
Para iluminar o Brasil com os mesmos raios resplandecentes que se deitam sobre o brilho das fantasias. Os atabaques vão tocando com alegria de viver pra saudar essa história de valor. Pra ouvir o preto falar. Um Brasil mais verdadeiro, de capítulo singular e afro-brasileiro. Com seus batuques, violas, cavacos e canções fazendo a honraria.
Que nos faz recordar os tempos de outrora. Do menino que desenhava nas ruas de areia a liberdade. Foi assim que ele guardou o amor pelo seu lugar: Irajá. Da velha igrejinha da Senhora da Apresentação, do bonde 98, da família, dos irmãos. As memórias que traçaram os primeiros passos, é lá onde o coração fez morada. Para as bandas do antigo roçado. Freguesia, sesmaria, até se tornar o bairro que traz consigo parte importante da história deste Rio. Da coisa antiga, roupa de chita na velha tina. Do ferro de engomar, goiabada cascão e dos tempos de Dondon. Este Rio de tantos Janeiros, tantas caras e corres. Este Rio que corre para as águas da baía onde se encerram os contos da Guanabara.
É isso ai! Ê! Irajá! Pra firmar a curimba no abraço de Vovó Maria Conga e ter a guarda dos caboclos, todos os santos e guias. Pra vencer demanda, tirar feitiço. Tudo isso com a divina proteção de Obatalá, que estendeu sobre sua cabeça o alá de sabedoria e paz.
E a vida te conduz ao livro do saber que lhe dá…
“O Direito a Poesia!”
Entre os encontros e desencontros, armado de livros e canetas, a vontade de vencer faz do homem negro bacharel. Que se lança na luta pra fazer valer o direito do que é de direito. É iniciado o resgate da tradição!
Luta de toda uma vida que foi forjada com raça e se espelhando na raça dos seus iguais, afinal, se nas brancas páginas falta a verdade, é preciso fazer valer os ideais de preta atitude. Por quem se fez notável: Castro Alves, Lima Barreto e outros mais. Negro autor, personagem dos versos sem amarras, sem correntes. Contra a distopia diaspórica, pra erguer com pilares de justiça essa nação. Epopeia de tantos!
E a sua obra vai irmanando as ancestralidades. Bantos, Iorubas e Malês. Coité e cuia, raízes do mundo em comunhão. Incursões sobre a pele retinta. Pra ser voz que não cala apesar da dureza da lida tão sofrida. Empunhar bandeiras. Ser um ressoante não ao preconceito. Porta-voz das africanidades. Pra reafirmar o poder da palavra e da educação. A chave da liberdade é um lápis com ponta de ébano que vai reescrever este país. Refundar a sociedade. Reconstituir ao povo a democracia com um dicionário de sabedoria.
Tudo isto está explicado aos seus filhos e…
“Ao Povo em Forma de Arte”
“Lá vou eu que bom subindo outra vez O domingo está tinindo e assim eu sei Que os canários, tangaras e os rouxinóis.
Já afinaram os gogós Só falta minha voz somando […]”
Quando o artista se deixa envolver pelas notas musicais. E por mais que a família não quisesse ele no samba, cujo ambiente ainda era malvisto, quando o destino chama, é difícil não responder. Se você sabe bem como é: O carioca tem a alma na palma da mão e o coração na ponta do pé.
Da Portela de Manacéia à Vila Isabel das calçadas musicais. O encantamento do fino trato das escolas de samba de azul e branco, mas, foi o vermelho e branco que arrebatou seu coração. Lá no torrão amado! Reverências ao velho Salgueiro, raiz forte que brota aqui e em qualquer lugar. Foi lá que ele viu desfilar grandes heróis de sua cor, e na magia da folia, entendeu que é possível o povo preto contar e celebrar sua própria história.
Alumia, Candeia! O sambeabá que não se aprende na escola. Manifesta ao povo os valores da tradição. Abre as portas do Quilombo pra nobreza das mãos negras que bordaram o cetim e dobraram o couro do tambor pra fazer carnaval. Samba de fundamento!
Que tem ginga sincopando o breque. Negro mesmo! Eternizado na voz de Alcione, Clara Nunes e Beth Carvalho. Pelas rodas versadas de partido alto ou nos discos de estúdio. Na arte negra de Wilson Moreira ou no Baú da Dona Ivone. De letra e música, derrubou fronteiras por toda América Latina. Gente bamba na roda de samba. Premiado. Gente bamba conquistando a fama.
Homem de ideias. Brasileiro genial. Doutor! São tantos casos e enredos que precisariam mais que um simples enredo da sua vida. É preciso ter a grandeza de uma celebração nos braços da multidão, afinal, sua história tem um quê de patrimônio popular.
E através da sua obra reluz um país afro-brasileiro. Brasil pandeiro de axé e figa de guiné. Reúne o candongueiro e o irmão café. Pra fazer um último verso de improviso pro querido amigo, que nesse samba vai se eternizar…
E vai brilhar em fevereiro,
Na frente dele vem o povo,
A nobreza vem atrás!
Perfumado de dendê e dandá,
Renascer no cantar!
Abra as asas “Senhora Liberdade”,
Não deixe faltar os acordes,
Pra fazer meu povo cantar forte,
Orixá do samba,
Ô glória, Nei Lopes!
Saravá!
Referências
Itaú Cultural. 80 anos de Nei Lopes, em busca da história das questões da população negra na diáspora. Publicado em 09/05/2022. Disponível em: https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/nei-lopes-oitenta-anos. Acesso em jul. 2022.
Itaú Cultural. Nei Lopes. Atualizado em 31/05/2022. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa438897/nei-lopes. Acesso em jul. 2022.
Jornal Nacional. Escritor, cantor, compositor e pesquisador Nei Lopes completa
80 anos. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal- nacional/noticia/2022/05/09/escritor-cantor-compositor-e-pesquisador-nei- lopes-completa-80-anos.ghtml. Acesso em ago. 2022.
Making of do DVD “Nei Lopes”. 2009. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0CaaiG8AyVk. Acesso em jul. 2022.
Universidade Federal de Minas Gerais. Literafro – o portal da literatura afro- brasileira. Nei Lopes, dados biográficos. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/343-nei-lopes. Acesso em ago. 2022.
Citação Musical
“Senhora da Canção” – De Letra e Música. 2000. Interpretação de Nei Lopes, Alcione e Dona Ivone Lara. Autores: Nei Lopes e Claudio Jorge
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