Grupo Especial
Vice-presidente Social do Império Serrano renuncia por discordar da escolha do enredo
A decisão do Império Serrano de transformar a música O que é, o que é, de Gonzaguinha, em enredo e samba-enredo no Carnaval 2019 continua gerando polêmica. O vice-presidente Social da verde e branco, Márcio Araújo de Oliveira, publicou no início da noite desta sexta-feira, 20 de abril, sua carta de renúncia do cargo. Ele alegou discordar da escolha da escola.
Mais cedo o diretor de Carnaval, Hélio de Oliveira, anunciara sua saída do Império Serrano em mensagem por sua rede social. No entanto, a direção da verde e branco publicou uma nota afirmando que ele não fazia mais parte da escola desde o fim do último Carnaval e que o mesmo já havia sido informado sobre a demissão.
Carta de renúncia
Ao: GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA IMPÉRIO SERRANO;
SÓCIOS DO GRESIS;
CONSELHO DIRETOR DO GRESIS;
CONSELHO DELIBERATIVO DO GRESIS;
CONSELHO FISCAL DO GRESIS;
E A TODOS OS APAIXONADOS E SIMPATIZANTES DO GRESIS
Eu Márcio Araujo de Oliveira, lamento entregar minha carta de renuncia ao cargo de VICE-PRESIDENTE SOCIAL do GRESIS ao qual fui eleito pelos sócios do GRESIS.
“Novidade pra cidade criei
Samba-enredo de verdade cantei
A nobreza em pessoa mostrei
É real minha coroa sou rei”
Minha relação com o IMPÉRIO SERRANO não é uma relação apenas racional, é uma relação exercida racionalmente, porém motivada por um grande amor e uma imensa paixão pela Escola. Quando digo amor e paixão pela Escola, estou dizendo que sou apaixonado pelo que nossa escola representa em seus valores, ideais, tradições e sua gente.
Quanto mais eu aprofundo meu conhecimento sobre o passado de nossa agremiação, seu legado de inovações associadas à preservação das tradições, e seu histórico de resistência, construídos pelas pessoas que idealizaram a Escola, tenho um grande orgulho de ser mais um apaixonado pelo Império Serrano.
No presente, quando atendendo aos pedidos de amigos associados do GRESIS me apresento como candidato a cargo eletivo, busco modernizar processos administrativos, organizar rotinas, facilitar a tomada de decisões. O objetivo é criar um ambiente propício ao surgimento de novos talentos artísticos – e talento artístico não falta ao Império e a sua comunidade, que apesar das adversidades continua produzindo frutos de inegável qualidade.
Quando imagino no futuro do Império, vislumbro uma Escola forte, pujante, competitiva, e que encha o imperiano de orgulho, e que principalmente siga fiel aos ideais de seus fundadores, as suas tradições, que seja UMA ESCOLA DE SAMBA e continue formando gerações de sambistas e apaixonados pelo samba.
Isso tudo me leva a uma objeção de consciência com o que foi apresentado para o carnaval de 2019. Não posso aceitar que nossa Escola de Samba deixe de ser uma escola e muito menos que abandone o samba. Não concordo que em nome de promover inovação nossa diretoria descaracterize a principal essência das escolas de samba – que é a composição do samba enredo. Samba enredo para ser executado naquele momento único, que é o desfile de uma comunidade. Comunidade essa que se reveste de orgulho para mostra ao mundo toda sua arte. Não compactuo com esse entendimento que ouvi da diretoria de que o Império não tem mais capacidade de criar um samba que contagie a sua comunidade. Não me permito ser omisso diante de repetidos equívocos que nos descaracterizam como escola e passemos a ser apenas repetidores de samba e mero imitadores do que outras escolas já tentaram. Não posso aceitar que o IMPÉRIO deixe de ser SERRANO, que deixe de ser SERRINHA.
Não tomei parte da discussão dessa proposta de enredo. Ontem a noite fui apenas informado pelos demais membros do Conselho Diretor, de uma decisão que já havia sido tomada, em um claro desrespeito ao ESTATUTO SOCIAL do GRESIS que em seu ARTIGO 54, que determina que esse tipo de decisão seja tomada em conjunto pelo Conselho Diretor.
Infelizmente me vi impotente para evitar que essa, que é provavelmente a maior violência cometida contra o Império Serrano, fosse consumada por aqueles que deveriam prezar pela escola. Isso me trás infinita tristeza .
Amando a escola e confiando na inigualável capacidade dos Imperianos em superar todas as dificuldades, me desligo do CONSELHO DIRETOR.
Agradeço aos amigos, aos sócios e aos apaixonados pelo Império Serrano, que confiaram em mim, e me apoiaram nessa empreitada.
O que me conforta é ter a certeza que continuamos sendo uma democracia, e que numa democracia nada é eterno.
“sou resistência
Sou Império, sim ‘sinhô'”
MÁRCIO ARAUJO DE OLIVEIRA
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